/lit/ - Literature

Há três dias eu vi algo lindo que, sinto eu, não esquecerei tão cedo; talvez passe o resto da vida (ou da juventude) rememorando todas as nuances do momento, tal como sou capaz agora. Trata-se de um suado e brilhante par de pernas levemente definidas, mas gordurosas na medida correta, Pandora delirada em Baco. Não-brancas, tudo bem, porém suadas, pegajosas sob o sol implicante das três da tarde. Há três metros de distância, uma ao lado da outra, andando juntinhas safadinhas e conversando sacanagens, calorentas compartilhando tão somente um shortinho jeans minúsculo (abençoada indumentária!). A cereja do bolo: estavam calçadas, calçadinhas num chinelo imundo e delicioso, com pezinhos operários que labutavam piedosamente para suster aqueles dois pedaços de carne suados-imponentes que chamavam-me à guerra; da minha parte, apanhado de surpresa, apenas admirei e guardei na memória. Ah, a vergonha de levantar tua lança Mirmídone e endurecer teu escudo Peleio mas enfim acompanhar de fora a fuga de corcel adversário! A adolescente estava de muleta, o que me leva a considerar a veracidade do momento - não estava eu delirando sob a tarde quente, pisando em poças de gotas recém-caídas de um céu azul limpo e acolhedor? E todos aqueles carros e movimentos e pedestres gordos e velhas? Não estava: foi real. Talvez viesse de uma consulta, talvez isto signifique: machuquei os joelhinhos e o doutor precisa analisar e passar as mãos e analisar muito bem estas pernas enfadonhas que doem tanto! Assim, a companhia da velha ganha sentido - bruxa que impede investidas e sequestros e acompanha a netinha à consulta. No entanto, há também outra possibilidade, e meu pênis lateja e arde e ameaça rasgar todo seu cativeiro só de ouvi-la sendo apenas preparada assim estudada e pronta para vir residir no inquérito: e o advogado proclama: “ela talvez seja deficiente!”. Aleijadinha!, realmente, seguiam de modo engraçado. Presa ferida fugindo e procurando desesperada compaixão no caos urbano, cambaleante encara às vezes o caçador sedento e compenetrado! Pernas não-brancas porém não-negras, pardas num tom meio asiático, matronas poderosas suarentas amparadas por fortes joelhos e muleta grossa e rija comprida e chinelinhos brancos não-limpos; poderia carregá-las apenas com meu falo, e assim dirigi-las à lua, gozar constelações de esperma sobre sua pele definida e banhar ejaculações de rios naqueles pezinhos coitados e delicados-piedosos, mortos de sede ao fim do dia portanto agora agraciados com meu leitinho. De volta à terra: elas viraram numa esquina e eu segui meus destinos agora importantes e significantes pois a vida é bela, uma beleza. Eu tenho dezenove anos anos eu tenho o mundo.


sorry, it is brown-language


>>10816598

NICE