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>> No.12440522 [View]
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12440522

>>12440517

É um conto de seis páginas. Postarei a última parte Agora.

IV

Ela pediu, já no hotel, para ir ao quarto comigo. Ao meu quarto. E chegando lá não estranhou todas minhas pílulas e óleos. “Aquelas são para o coração, essas são para meu pênis”, menti. Mas não importa. Fui chantageado a falar o que ela queria.

— Então me diz, Senhor Montserrat: o que é que sentimos no coração quando estamos completamente apaixonados?

A priori, não entendi. Em seguida, quase caindo em seu golpe, fiquei boquiaberto. Se falasse seu nome, eu a perderia. Perguntei os motivos daquilo, e uma lágrima já descia de meus olhos enquanto tudo acontecia. É fácil perder o que conquistamos com a imaginação.

— Você precisa dizer a palavra, para que finalizemos este agradável dia. Sei que você sabe que eu sei que você sabe que eu sei que você sabe. Você está falecido, como bem me disse antes. Essa é sua última chance de viver. Diga-me. O que sentimos no coração quando estamos completamente apaixonados? Está no nome de seu conto, oras!
Pensei um pouco. Tinha uma resposta mais adequada para ela.

— Morte! — Berrei.

— Não é! — Berrou-se de volta.

— Morte! Morte!

— Montserrat, nos encontraremos do outro lado se você disser meu nome.

Então a palavra saiu da minha boca como se tirada por alguém. Ela ficou feliz em ouvi-la. Como se ganhasse a caixinha de música com a bailarina graciosa e esta dança, enquanto de lugar nenhum ressoa Beethoven.

— Amor.

Seus olhos então brilhavam cada vez mais intensos em tom verde-esmeralda. O quarto inteiro cintilava e eu, em prantos, tampava o rosto enquanto tudo era acentuado. Depois do clarão, tudo acalmou-se, mas as luzes de meu quarto estavam desligadas. Acho que ficaram cegas. Só se via por uma brecha de luz branca advinda do corredor. Não sei o que está acontecendo, agora, mas sinto que fui consumido por uma chama invisível e a morte aparece ante a porta do quarto, sob a silhueta de um ceifador de almas. Pergunto-me se não é em razão desta obscura inevitável que já não consigo mais levantar-me da cama; mantenho-me aqui, de bruços, sufocado nas palavras que escrevo neste caderno, em breu quase total, para um impossível leitor. Minha condenação primeira foi alicerçar-me na escrita como modo de viver. E de morrer. Ai de mim! Mas não, nada disso é a razão crucial de minha agonia. Bem sei de onde colho este lamentar, e tudo terminará agora.
Morte... Precisamente. A única boa palavra que consegui deferir ao espírito cintilante neste dia.

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